Sozinho e feliz, o livro como remédio e o trabalho no seu devido lugar: ufa, estamos no bom caminho!

Esta semana foi bem atípica: começou, para mim, com uma passagem pelo pronto atendimento de um hospital, mas também incluiu uma celebração mais do que necessária, o dia da Consciência Negra. Desde a pandemia tenho pensado muito e tentado refletir sobre essa questão. Nosso país, que tem maioria negra, sempre foi tão pouco preocupado com esse reconhecimento. Ao celebrarmos essa data, fica o alerta para esse tema tão necessário: a inclusão. O especial que assisti sobre Milton Nascimento, na Globo, dirigido por Flavia Moraes, me fez repensar tantos momentos e tantas questões tão fundamentais na vida da gente. Estamos bastante atrasados. O momento é este.


UMA NOVA MODA

Tem algo delicioso acontecendo no mundo — e não é lançamento de novo modelo de bolsa: é gente apaixonada por livros ocupando as vitrines, as festas e o feed. Ser “nerd de livro” virou look, virou lifestyle, virou o cool da vez — a gente inclusive já mostrou isso aqui quando entrevistamos Pedro Pacífico, o Bookster. A moda entendeu o recado e entrou de cabeça: a Saint Laurent não se contentou em posar de mecenas, abriu logo uma livraria em Paris; a Valentino botou seu nome no International Booker Prize; a Miu Miu montou um Literary Club com direito a debate sobre “As Inseparáveis”, o romance póstumo de Simone de Beauvoir. Tem um quê de sinceridade nisso: a moda sempre flertou com a literatura, de “Orlando” — o romance de 1928 de Virginia Woolf, que coloca roupa, tempo e gênero no centro da narrativa — a coleções inteiras tiradas de páginas clássicas. E tem, claro, estratégia: num setor que produz sem parar e vive questionando seus excessos, apoiar as artes é também uma maneira de reposicionar seus valores. Os livros também funcionam como perfeito antídoto à pressa: custam menos que uma it-bag, circulam, voltam, passam de mão em mão — aquele tipo de experiência que o fast-fashion e os algoritmos não conseguem entregar.
Mas essa maré não fica presa na vitrine. Ela escorre para o celular, para as totes e para o banco do bar. Dua Lipa, que virou musa da leitura com a Service95 — que une newsletter, podcast, clube do livro e transforma leitura em conversa global — é vista com frequência com romances densos a tiracolo.
Ao mesmo tempo, nós ficamos com a pergunta que não quer calar: estamos mesmo lendo ou apenas encenando a leitura? O fato é que o objeto-livro virou símbolo de status offline num mundo que mede tudo pelo online. Não é à toa que, mesmo com e-books e audiobooks em alta, o papel resiste firmíssimo no Reino Unido — e, paradoxalmente, é o post bem elaborado, ao lado do martini ou do espresso, que chancela esse hobby silencioso.
Em Londres, a literatura saiu da biblioteca e ganhou pista. Leituras viraram eventos, como a Soho Reading Series e a Adult Entertainment, que misturam networking, flerte e poesia, com produtores incentivando o público a, literalmente, encontrar alguém na plateia. Performance? Sim. Mas talvez seja justamente a performance que abre as portas para o hábito. Se a moda e o hype forem a isca que mantém a palavra impressa circulando, que tragam a pose — desde que ela nos conduza à página seguinte. Talvez, o que realmente vale é aquela respiração mais profunda que só um bom livro nos dá, quando o barulho lá fora diminui e a história nos escolhe.


SOLTEIROS, SIM, SENHOR

Tem um assunto cruzando grupos de WhatsApp, mesas de bar e até silêncios desconfortáveis no elevador: a tal “grande recessão de relacionamentos”. Aquele roteiro clássico de casar cedo porque “era o que tinha” ficou para trás — e não é só impressão. A The Economist aponta que a despadronização do casamento corre num ritmo acelerado: em cinco décadas, dobrou a fatia de americanos de 25 a 34 anos sem cônjuge ou parceiro — 50% dos homens e 41% das mulheres. E não é fenômeno local: em 26 de 30 países ricos, mais gente passou a morar sozinha desde 2010. Pelas contas da revista, temos hoje pelo menos 100 milhões de solteiros a mais do que teríamos se as taxas de união fossem as de 2017. O curioso é que a “solteirice geral” nasce, em parte, de uma boa notícia: com menos barreiras no mercado de trabalho, mais mulheres conseguem se sustentar — e, por isso, não precisam mais tolerar parceiros ruins. Isso tirou muita gente de relações péssimas e empurrou muitos homens a ajustar o comportamento para continuar sendo escolha. Ainda assim, a liberdade de voar solo não significa que ninguém queira companhia: pesquisas indicam que a maioria dos solteiros preferiria estar num relacionamento, mas a busca virou uma maratona com obstáculos conhecidos — expectativas infladas pelos aplicativos e pelo Instagram, polarização política que transforma opinião em filtro afetivo e uma certa ferrugem nas habilidades sociais pós-vida-de-tela.
Também o padrão subiu — especialmente para elas. Um parceiro “mais ou menos” já não concorre com a paz de estar bem consigo mesma. E muitos homens patinam para acompanhar suas companheiras, seja na formação, seja na estabilidade financeira. Some-se a isso o avanço da vida solo até em países ultraprogressistas, como Finlândia e Suécia, e aparece um horizonte em que morar sozinho é a norma — e, pasme, 7% dos jovens solteiros já topariam um romance com IA. Afinal, algoritmo não deixa a toalha molhada na cama, não é?
O mundo, portanto, vai ficando mais single, com impacto que vai da planta de apartamentos à arrecadação de impostos. A pergunta que sobra é simples e incômoda: estamos prontos para amar num cenário em que as expectativas são altíssimas e a concorrência, às vezes, é um chatbot? Não está fácil, não…

O NOVO CONSUMO

Se você quiser medir status em Nova York hoje, esqueça a bolsa de grife e repare na sacola de compras — de preferência transparente, com o logo gigante e um smoothie caro dentro. O novo fetiche por lá são os supermercados que quase não vendem produtos… de supermercado. São as mercearias hypebeast, templos onde a mercadoria principal é a aura: prateleiras quase vazias, lançamentos pontuais, embalagens desejáveis e a promessa de bem-estar em versão cápsula. Não é exatamente sobre o que tem no carrinho, e sim sobre ser visto empurrando o carrinho certo. Em Nova York, o terreno está aquecido: o Rigor Hill abriu em 2022, a Happier Grocery desembarcou em 2023 e o Erewhon fincou bandeira na cidade dentro do Kith Ivy — uma microloja, do tamanho de sauna, dentro de um clube com taxa de iniciação de 36 mil dólares. Para quem não entra no clube, resta pedir o smoothie da Hailey Bieber por delivery e torcer para que chegue menos derretido do que a nossa paciência, mesmo pagando vinte dólares mais a taxa.
A graça, claro, é performar e tem gente chamando isso de “o cavalo de Troia da estética”: se a bolsa Birkin não dá, vai um morango de 20 dólares para o feed — e pouco importa se ele foi realmente comido ou não. A sacola vira mídia, a prateleira, passarela, e o rótulo precisa falar mais alto do que a lista de ingredientes. A Happier Grocery, uma das estrelas dessa nova onda, entendeu a lição com suas bolsas transparentes que transformam leite vegetal e salada lavada em look do dia. O DNA desses “HypeMarts” está mais perto de Balenciaga do que da Whole Foods: coleções cápsula, jaqueta de 120 dólares com logo da mercearia, colaboração com influencers e um vocabulário inteiro importado da moda para vender… tomate. A Flamingo Estate, outra marca queridinha, resume bem no slogan: “A Mãe Natureza é a última grande casa de luxo.” A natureza, claro, com direção de arte.
O varejo alimentar clássico vive de margens limitadas, mas a rede Erewhon, de Los Angeles, reescreveu a matemática transformando “bem-estar” em commodity premium — e, reza a lenda, faturou meio bilhão de dólares no ano passado com apenas dez lojas. A ironia é que esse bem-estar, embalado em copos fotogênicos, pode vir em forma de um smoothie açucarado como um donut. Difícil não pensar em distopia quando os preços do mercado disparam e enquanto 42 milhões de americanos dependem de assistência alimentar.
Enquanto isso, o supermercado físico de luxo tende a se cristalizar como parque temático para quem pode pagar pela “experiência”. Talvez seja esse o ponto cego do hype: a gente anda fazendo cosplay de conexão com o que nos nutre, confundindo rótulo com refeição, estética com sustância. Se a mercearia virou grife e o carrinho virou branding, quem sabe a próxima tendência seja um retorno ao bom e velho papo no balcão. Até lá, seguimos entre a vitrine e a vitamina, divididos entre a foto perfeita e a fome de algo que, pelo menos, alimente.

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ATENÇÃO, PERIGO

De uns tempos para cá, o mercado de trabalho deixou de soar como projeto de vida e passou a parecer um labirinto com saída escondida. A cada geração, a culpa pela encrenca muda de roupa: já chamaram a X de “corpo mole”, os millennials de preguiçosos e agora a Gen Z de “inempregável” — como se a juventude tivesse inventado a vontade de viver melhor e equilibrar vida com trabalho. Só que, de acordo com o The New York Times, quando a gente deixa o preconceito e olha com cuidado para o cenário, o que aparece é um funil apertado, desanimador e, muitas vezes, desumano. Entrar no mercado virou uma espécie de congestionamento eterno: você envia currículo, customiza palavra-chave, recompõe o LinkedIn, tenta decifrar o que o robô quer — e, se tudo der muito certo, ganha o prêmio máximo do capitalismo tardio: falar rapidamente com um ser humano no Google Meet.
Nesse labirinto, a triagem por inteligência artificial virou personagem principal. Não é mais sobre ler histórias profissionais; é sobre conquistas do algoritmo. A simples ideia de que alguém possa explicar sua trajetória de forma singular é triturada pela régua da padronização. E, ironicamente, o “fit cultural” — tão exaltado — raramente passa pela conversa real. Passa por um PDF obediente. Quando a vaga finalmente chega, a fantasia do “agora vai” dura pouco. Os relatos mais comuns falam de microgestão com lupa, mentoria inexistente e metas que empilham seis funções num expediente de 40 horas. O pacote de benefícios é mediano, o horizonte de crescimento, nebuloso. Para completar, entra em cena uma parafernália de vigilância que conta cliques, mede o tempo de teclado, deduz “ociosidade” por silêncio e, no limite, confunde pensar com improdutividade. O sistema mede o que é fácil medir e ignora o que dá trabalho: criatividade, tempo de reflexão, conversas que destravam soluções. E o resultado é triste: há cerca de uma década, os indicadores de bem-estar entre quem tem menos de 25 anos vêm piorando, a ponto de estudos apontarem jovens empregados tão infelizes quanto seus colegas desempregados — um paradoxo cruel.
Diante desse cenário, buscar alternativas deixa de ser rebeldia e vira sanidade. Tem gente apostando no empreendedorismo não como fantasia de “seja seu chefe”, mas como tentativa de recuperar agenda, tempo, método. Outros encontram na sindicalização um meio para negociar o que foi se esfarelando. São respostas diferentes para o mesmo incômodo: a percepção de que trabalho bom é aquele que trata adultos como adultos.
Talvez a gente precise parar de rotular a Gen Z como frágil e reconhecer que ela teve coragem de nomear um mal-estar que todo mundo já vinha sentindo antes. A hipótese que vale testar não é “como domar o jovem”, e sim “como devolver humanidade ao trabalho”: reduzir a vigília e aumentar a confiança, trocar o fetiche do dado por pactos claros de entrega, abrir espaço para erro e aprendizado, estabelecer mentores de verdade. E, sinceramente, quem não fugiria de um cenário que mede as pessoas por ruído e lhes nega o silêncio — justamente o lugar onde nascem as boas ideias?


UÉ: AS CRIANÇAS CRESCERAM?

Tem uma nova moda circulando pelas universidades norte-americanas que é daquelas de fazer a gente dar uma risada nervosa e, em seguida, soltar um “eita”. Durante muito tempo, ir para a faculdade era sinônimo de rompimento. A grande cena de passagem, aquela clássica de filme americano: os pais deixavam o filho na porta do dormitório, talvez chorassem um pouquinho no estacionamento, combinavam um telefonema semanal (quando muito) e pronto. Cada um seguia seu rumo. Era aquele momento de finalmente lidar com a vida, horários, fome, solidão, contas… Só que esse roteiro agora está sendo reescrito. Entrou em cena uma figura que as próprias universidades já batizaram: o trailing parent, aquele pai ou mãe que não só acompanha de perto a vida acadêmica dos filhos como literalmente os segue. Não estamos mais falando de ligações diárias checando notas e roupa para lavar: estamos falando de presença física. De acordo com a revista The Atlantic, tem pai e mãe alugando apartamento em Atlanta, Austin ou Boston durante os quatro anos de faculdade do filho, funcionando como um puxadinho para visitas frequentes. Tem também pais comprando casas em condomínio em Washington, D.C., para o filho ter onde ficar — e para poder aparecer com uma sopa quentinha assim que ele espirrar. Em casos mais “cinematográficos”, tem família que passa um semestre inteiro morando em Florença ou Barcelona enquanto o filho está em intercâmbio. Não é viagem de férias: é mudança estratégica para acompanhar a cria de perto.
As histórias variam entre o engraçado e o levemente assustador. Teve até mãe que alugou um condomínio para morar com a filha e a acompanhava até a sala de aula, todos os dias. Chegou a tentar sentar ao lado da garota dentro da sala — até ser avisada, educadamente, que aquilo não era exatamente adequado. Resultado: passou a esperar do lado de fora, na porta, para voltarem juntas para casa. E isso não foi um fim de semana de adaptação, foi a rotina de quatro anos… Não deixa de ser engraçado. A coisa pode se estender a detalhes que, em teoria, fariam parte da graça da independência. A decoração do dormitório, por exemplo, virou quase uma prova de fogo. Em vez de colcha torta, pisca-pisca e cartaz colado com fita dupla face, vemos pais contratando decoradores profissionais para montar o quarto perfeito. E, enquanto os ambientes ficam impecáveis, a fronteira entre apoio e controle vai ficando cada vez mais borrada. No campo acadêmico, o enredo é parecido: muitos pais mantêm o mesmo nível de interferência que tinham no ensino médio. Em vez de incentivar o filho a conversar com o professor sobre uma nota, eles mesmos mandam e-mail, ligam, querem discutir a avaliação, a prova, o trabalho em grupo. A intenção até pode ser proteção, mas o efeito colateral é outro: os filhos perdem a chance de aprender a se defender e se posicionar sozinhos. É aí que entra a preocupação de universidades e especialistas. A questão é que faculdade não é só sobre aprender história russa, estatística ou economia. Ela é, principalmente, um laboratório de vida adulta. Quando o pai ou a mãe se colocam como socorristas oficiais de qualquer frustração, eles acabam, sem querer, esvaziando o principal “conteúdo” desse período: saber lidar com conflito, frustração, erro e consequência.
Talvez o desafio da nossa geração seja justamente esse: amar sem cercar, apoiar sem resolver tudo, estar por perto sem estar em cima. Por mais tentador que seja alugar um apartamento ao lado do campus, a maior prova de amor pode ser, ironicamente, fazer o caminho contrário: dar alguns passos para trás e confiar que eles conseguem atravessar a rua sozinhos.


Desejos de consumo

Pois é: o final do ano chegou e já está na hora de fazer a lista de presentes. Foi pensando num homem moderno e de extremo bom gosto que fiz as minhas escolhas desta semana no Iguatemi.

Na montagem acima, imagem de Norman Rockwell, The Connoiseur, 1962

1 - Essa camisa de algodão da Comme des Garçons é toda em tons de azul: minha cor preferida para os rapazes!

2 - Ah, essa mochila da Balenciaga faz toda diferença numa viagem curta

3 - Com esse chapéu da Prada, o toque contemporâneo está garantido

4 - O toque de brasilidade do ovo de cerâmica da Oficina Francisco Brennand vai ficar muito bem na prateleira da biblioteca, entre um livro e outro

5 - Esses óculos da Zegna que encontrei na Morisson: luxo!

Marina Lima nunca foi de repetir fórmulas. E é exatamente por isso que cada encontro com ela surpreende.

Dessa vez, a conversa foi sobre prazer, tempo, recomeços e o direito de se reinventar quantas vezes for preciso.

Está no ar no meu canal e eu te garanto: é impossível sair igual depois de ouvir Marina.

Assista no YouTube: https://youtu.be/L5e-D5Bgjho


3 perguntas para

Luciana Pessanha fala de novela como quem fala de literatura — com o mesmo encantamento pelas contradições humanas, pela tragédia e pelo acaso. Roteirista de sucessos como “Avenida Brasil” e “Vale Tudo”, a autora enxerga a teledramaturgia como um “folhetim audiovisual” em que as grandes histórias se constroem aos poucos, com a contribuição de muitos talentos e o frescor das surpresas que nem sempre cabem no roteiro. Ela reflete sobre o que muda (e o que não muda) entre uma obra original e um remake, o prazer de criar personagens que desafiam a lógica, e a força coletiva que faz da novela um fenômeno tão brasileiro — e ainda irresistível.

1. Você tem uma trajetória que passa por diferentes formatos — novela, série, teatro, literatura. O que da sua vivência como dramaturga e escritora você leva para o roteiro de novela? E o que a TV te ensinou sobre narrativa que você talvez não encontrasse em outros formatos?

A novela não é nada mais do que um folhetim audiovisual. Eu gosto muito do Balzac, pelas histórias da burguesia; eu adoro a falta de medo da tragédia, da decadência, da pobreza e da miséria humana que o Dostoiévski tem... Eu acho isso muito maravilhoso. E quando precisa, é nesses lugares que eu vou buscar.

Na dramaturgia, eu aprendi, com um cara chamado José Sanchis Sinisterra, em uma pós-graduação no Instituto del Teatro, em Barcelona, que às vezes você não precisa que o roteiro diga tudo sobre a história, sobre o personagem, sobre não sei o quê. Às vezes me reservo o direito de não saber o porquê o personagem fez aquilo, deixar ele fazer alguma coisa que não seja racional e explicável. Porque eu acho que muitas vezes a gente faz isso. As pessoas têm um perfil, um jeito delas, mas, às vezes, elas surpreendem.

E o que a TV me ensinou, para usar em outros formatos, foi a calma de saber que as coisas vão se fazendo aos poucos. Eu tinha muita ansiedade de começar as coisas, eu tinha um medo de saber como terminaria… E é um processo. Tem que entender que fazer uma novela de 179, 230 capítulos é um processo que vai crescendo, que vai se desenvolvendo, que é possível, muitas vezes, ainda voltar atrás. E que muita gente (um editor, um amigo) vai chegar e vai acrescentar. A gente não faz nada completamente sozinho. Sempre podemos contar com outros talentos para ajudar e isso é maravilhoso.

2. Você participou de Avenida Brasil, que era uma obra original e foi um sucesso absoluto, depois, de Vale Tudo, que foi um remake, mas foi muito bem sucedida. Quais os principais desafios de uma obra original? E de um remake?

Eu sempre uso essa imagem: uma obra original é mais ou menos como se você fosse um português que em 1500 pegou uma caravela e falou: "Oba, vamos para a Índia”. E aí, você sai contando com as estrelas, contando com os ventos e, sem mais nem menos, você chega no Brasil… ou não. É você cruzar um oceano numa obra original de novela de mais de 100 episódios. É você cruzar um oceano sem ter muita ideia de onde você vai parar, sem conhecer o lado de lá, torcendo para os ventos, para as estrelas… Você tem uma coisa que, mais ou menos, que te guia, que é uma sinopse, mas tudo pode acontecer. O ator pode ficar doente, um estúdio pode pegar fogo… É uma roleta russa.

Na adaptação também tem essas obras do acaso, mas você não está sem o mapa de navegação. Você tem ele ali e sabe de onde sai, onde é que chega e o caminho que você pode percorrer. Se você quiser, lá pelas tantas, derivar, mudar, enlouquecer, você faz. Mas se você, em algum momento, estiver inseguro, tem sempre para onde voltar. É uma segurança. O lado negativo disso é que, no remake, tem as pessoas que são saudosistas e tem a referência delas, do momento da vida delas, do quanto aquilo impactou na vida delas e vão querer cobrar esse mesmo nível de impacto em outra ocasião do planeta. E aí é complicado.

Por exemplo: Pantanal foi uma novela que impactou muita gente, as pessoas mudaram de canal para ver Pantanal quando ninguém mudava de canal. Mas, Pantanal é massa falida da Rede Manchete. A versão de 1990 não está na Globoplay para conferir se a Juma de agora é tão legal quanto a Juma de antigamente, se o Leoncio é tão assim quanto assado... E isso é uma delícia porque com a lembrança — que é uma vaga lembrança porque é muito distante — você não tem a referência ali à disposição. E eu acho que isso ajudou muito.

Então, esse é o negócio do remake. Tinha gente assistindo à Vale Tudo 1 e Vale Tudo 2 ao mesmo tempo, comparando. Isso é uma crueldade porque, mal ou bem, são incomparáveis. Nós estamos em outro tempo. Aquela obra discutia um Brasil onde a gente estava começando a entender como o país funcionava. As coisas se agravaram muito mais. Ninguém se surpreende mais com o tipo de escândalo que surpreendia as pessoas nos anos 1980. E os atores são incomparáveis. Não dá para comparar uma atriz com outra, um ator com outro. Para que isso?

3. Você acredita que o público ainda fica ligado numa boa novela? E qual seria o caminho do futuro ou o próximo passo para a novela?

Eu acho que o público ainda fica muito ligado quando a novela consegue atingir. A impressão que eu tive com Vale Tudo é que ela atingiu um público que não via novela há muito tempo, que estava vendo só séries. Atingiu o público jovem, que também não tinha esse hábito, porque falou com esse nicho de pessoas, como eu acredito que outras novelas falam com outros nichos, que são aquelas pessoas sentam ali e assistem diariamente.

As pessoas falavam para mim que era legal ter uma novela no cotidiano. E eu acho muito legal também ter esse assunto coletivo que a novela dá. Porque assim, série é legal, mas é aquela coisa: “você viu a série tal?” Eu posso ter visto a série tal há 2 meses, eu posso não ter visto, eu posso estar no episódio 8 e a pessoa, no 2. A conversa complica um pouco. Com a novela, não. Todo mundo está ali todo dia, vendo ao mesmo tempo. No dia seguinte, você fala no salão, na universidade, com os seus amigos. Isso eu acho sensacional da novela.

O futuro, eu não sei. Se eu soubesse, estava rica [risos]. Tem muitas apostas nas novelas verticais que eu, sinceramente, acho que são as bets da teledramaturgia de ficção: pelo formato, pelo pouco que exige de pensamento… Mas, sei lá, talvez eu esteja ficando velha. Os doramas eu acho que são mais legais, mas também acho estranho que a gente, com essa tradição incrível de novela, ficar pesquisando outro formato para tentar copiar, sendo que a gente tem um formato que é campeão.

Direto do meu Instagram

Essa Semana Eu…

Por conta de pequenos cálculos que surgiram nos meus rins e me levaram ao hospital, não pude participar do jantar no MASP, pilotado pelas duas chefs que eu amo tanto, Manu Ferraz e Paola Carosella — espero que o próximo venha logo


Recebi o convite para a primeira mostra de Maria Klabin em São Paulo, que acontece a partir da próxima quarta-feira, na galeria Nara Roesler: sim, eu vou — gosto muito do trabalho dela

Fiquei feliz com a estreia da mostra sobre Carl Jung, no MIS — acompanhei todo o empenho para que esse momento acontecesse

Tive uma aula especial com o tema do livro “Vita Contemplativa”, do filósofo Byung-Chul Han, que eu tanto admiro: como é bom abastecer a cabeça com ideias e pensamentos que fazem sentido

Fui, pela primeira vez, na pizzaria Villa Napoli, dos mesmos donos do Jardim de Napoli, e fui surpreendida pela qualidade e pelo sabor de cada uma das pizzas que experimentei

Fiquei assustada ao ler que o próximo MET Gala vai ter como principal patrocinador o bilionário Jeff Bezos e sua mulher Lauren Sánchez: o tradicional patrocinador número um, a Condé Nast, virou o número dois

Vi no Instagram uma lagosta muito engraçada, criada pelo artista plástico Jeff Koons: pode ser usada como travessa para ir à mesa, acreditem

Soube do lançamento do livro: “Afrodite: Contos, receitas e outros afrodisíacos”, de Isabel Allende — só sobre receitas, inclusive afrodisíacas

Quase fui às lágrimas ao assistir ao Emicida no Conversa com Bial: cada vez admiro mais esse poeta, compositor e cantor sensível e iluminado — ele falou sobre seu amor por palavras proparoxítonas, sobre a saudade de sua mãe e sobre a distância de seu irmão, tudo com muita sabedoria e sensibilidade

Continuo a acompanhar a repercussão do novo álbum de ROSALÍA, chamado Lux: como ela é diferenciada de todas as outras

Assisti ao último episódio desta temporada do Saia Justa com Eliana, que está cada vez mais adaptada ao comando do programa: sou fã dela há muito tempo

Acompanhei atentamente todo o rebuliço em torno da intervenção do Banco Central no Banco Master e de seu dono, respingando para tudo que é lado — e o que dizer da namorada dele, com anel de brilhante enorme e jatinhos para cima e para baixo?

Fui conhecer o novo Bicchieri Cucina e Bar, em Pinheiros — que delícia de almoço!

Me apaixonei pelos loafers da nova coleção da Miu Miu

Recebi em casa uma pequena joia que eu havia encomendado: o livrinho da artista e escritora francesa Sophie Calle, com histórias e fotografias — pequenas janelas de sua vida

Descobri que existe, em Londres, uma livraria que oferece um “personal trainer intelectual” por 1.200 libras ao ano, que manda livros escolhidos como nenhum algoritmo conseguiria: a Heywood Hill, fundada em 1936, especializada em raridades e era a preferida da rainha Elizabeth

Fiquei emocionada com a nova coleção de joias e amuletos criada por Kika Olsen para a sua marca Olsen K

Fiquei feliz com uma decisão histórica do NHS: a partir do ano que vem, o sistema de saúde britânico vai incluir o rastreio da menopausa nos check-ups de rotina de mulheres de 40 a 74 anos — ah, e também o FDA retirou nos Estados Unidos a "tarja preta" das terapias hormonais para menopausa (finalmente estão tratando esse período como parte essencial da saúde feminina, não como drama privado)

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Em tempos de COP30, como não homenagear o carimbó, esse ritmo que arrebatou corações gringos por lá? Aqui, a cantora Lia Sophia, acompanhada de Fafá de Belém e também de Pinduca, o rei do carimbó. Muita animação, muitas vozes: Brasil!

FORÇA EM EXPANSÃO

A Mantiqueira USA, joint venture entre a família Pinto e a JBS N.V., deu um passo grande nos Estados Unidos: firmou um acordo para comprar a Hickman’s Egg Ranch — uma das principais produtoras de ovos do Oeste americano, entre as 20 maiores do país. A operação marca a estreia oficial da MTQ USA, além de reforçar a sua estratégia de longo prazo.

Leandro Pinto, fundador da Mantiqueira, comemorou o movimento como a realização de um objetivo antigo da família. Presidente da MTQ USA, Murilo Scarpa Pinto diz que a combinação do legado da Hickman’s com a escala e a experiência global da companhia cria uma base sólida para crescer com propósito. E Wesley Batista Filho, CEO da JBS USA, resumiu o impacto do negócio: “Esta aquisição é um marco importante para a JBS nos Estados Unidos, expandindo nossa atuação para uma nova e complementar categoria de proteína. Vemos uma oportunidade significativa de entregar ainda mais valor aos clientes em todo o país.”

O fechamento está previsto para acontecer até o fim do ano, sujeito às condições habituais. Do lado da Hickman’s, o presidente e CEO, Glenn Hickman, destacou a confiança de que a transição abrirá novas oportunidades para clientes e colaboradores.

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