Fim de caso, a onda dos adesivos e… socorro! Eu estou rico!

Que semana foi essa? Nem estou me referindo a todos os acontecimentos do mundo: na Noruega, nos Estados Unidos, no Brasil, é claro, e até no Japão, com um terremoto. Passei sete dias com uma dor absurda na região dos rins que só chegou ao fim na sexta-feira, quando a pedra foi implodida numa intervenção não invasiva pela equipe do professor Dr. Miguel Srougi, a quem admiro há mais de 30 anos — um exemplo de profissional. Miguel era meu amigo, apenas, e, há uns dois anos, quando comecei a ter sinais de que havia uma fabricação dessas indesejáveis pedras dentro de mim, ele virou meu médico também. Que sorte a minha… É impressionante como a dor nos deixa imobilizados, como a cabeça só pensa em coisas tristes e como fica difícil ver o sol brilhar. Some-se a isso aquela melancolia típica de final de ano e a coisa fica realmente complicada… Mas agora, com minha pedra devidamente bombardeada, estou pronta para recomeçar. Me reerguer, me reenergizar e me preparar para o ano que já já vai começar. Preciso de força, preciso de foco, preciso de saúde, de amor, de empatia. Preciso de luz e preciso de bênçãos. Que bom se eu puder contar com tudo isso. Ah: eu posso, sim.


CHÁ-REVELAÇÃO

Imagine sentar numa sala para descobrir, de repente, que tem uma fortuna de 100 milhões de dólares em seu nome. Existe até um ritual com nome pomposo: “trust reveal”, a revelação da fortuna. Não é alguém chegar com um envelope e dizer “parabéns, você ficou rico”. O processo é tratado como uma intervenção emocional: famílias contratam conselheiros, planejadores financeiros e até ministros religiosos para montar o roteiro. Não é só sobre o dinheiro, mas tudo o que vem junto: expectativa, culpa, medo de decepcionar, sensação de dívida com quem deixou a herança.
E não se trata de pouco. Mais de 100 trilhões de dólares devem passar das gerações mais velhas para herdeiros e instituições de caridade até 2048. Desse bolo, cerca de 62 trilhões sairão dos bolsos de uma elite minúscula, 2% das famílias. Só em 2025, trusts e espólios nos Estados Unidos renderam 290 bilhões de dólares em receita para beneficiários – um recorde desde o início da série histórica, em 2003.
Se você pensa que trust é só uma conta com ações e dinheiro rendendo quietinho, prepare-se para a criatividade dos ultra-ricos. Esses fundos podem abrigar ações, títulos, casas em estações de esqui, reservas em dinheiro, coleções, relíquias de família e até aquela bolsa Hermès de luxo. E algumas dessas fortunas bancam hobbies caríssimos, como a filha que ganha autorização para comprar e manter cavalos de mais de 100 mil dólares cada, incluindo todas as despesas que eles envolvem.
Ao mesmo tempo, há uma obsessão pelo controle: muitos documentos incluem cláusulas de comportamento. O herdeiro pode precisar comprovar que está empregado, manter-se sóbrio, passar por testes de drogas antes de receber qualquer valor.
O dilema continua: contar ou não contar a verdade sobre a fortuna? Muitos pais têm pavor de “estragar” os filhos, tirar a ambição ou a vontade de trabalhar. E os dados refletem os receios: boa parte das famílias simplesmente não fala sobre isso. Estimativas apontam que 68% dos pais nunca contaram aos filhos se eles vão herdar alguma coisa. Afinal, é aquilo: dinheiro pode ser separado em trusts que atravessam gerações e amarrado a mil critérios, mas amor, afeto e maturidade não se colocam em cláusula.
Para quem vive nesse mundo, a pergunta não é só “quanto vou deixar?”, mas “como vou contar?” e “que tipo de relação quero que meus herdeiros tenham com esse dinheiro?”. Para muitos super-ricos, o verdadeiro luxo talvez não seja o valor do trust, e sim atravessar esse momento sem transformar a família num campo de batalha eterno.


QUERO CASAR

Dá para imaginar que, em plena era dos aplicativos de namoro, o app mais hypado da China é… um parque? Pois é: nada de algoritmo, nada de foto com filtro, nada de mensagens no Instagram. Em Chongqing, no sudoeste do país, toda sexta e sábado de manhã, um parque no topo de uma colina vira cenário de um mercado de casamentos à moda antiga, uma espécie de “feirinha do matrimônio” a céu aberto. Só que quem está em ação não são os solteiros em si, mas seus pais aposentados, circulando com currículos impressos — acredite se quiser — dos filhos como se fossem perfis de um aplicativo, só que em papel e com bem menos sutileza.
Enquanto a gente aqui costuma esconder idade, peso e salário, lá isso tudo vai parar, sem pudor, nesses currículos. Tem altura, peso, renda, se os pais têm pensão, se o filho tem casa ou carro — é a objetificação do romance em versão impressa. Os papéis são pendurados em guarda-chuvas abertos, que viram pequenos estandes improvisados, e o parque fica tão lotado que os mais velhos praticamente se esgueiram em uma passarela, examinando as “opções” com olhar crítico. Por trás desse cenário pitoresco tem um dado pesado: em 2024, a China registrou apenas 6,1 milhões de casamentos, uma queda de 21% em relação ao ano anterior, o menor número já registrado. Com a população encolhendo e o casamento deixando de ser prioridade para muitos jovens, os pais entram em modo força-tarefa.
A tensão geracional é quase um personagem à parte. Uma casamenteira voluntária tenta acalmar os pais, mas admite que a cabeça dos jovens é outra: a geração anterior “engoliu muita coisa”; já a atual pensa “por que eu deveria me contentar?” — algo que nós já discutimos há algumas edições. E as listas de exigências mostram bem essa virada: uma mulher de 30 anos, com casa, carro e salário razoável, quer alguém com menos de 29 anos, altura e peso específicos e sem “maus hábitos”. Um rapaz de 26 anos procura uma esposa sem tatuagens, com diploma universitário e que “não seja muito gordinha”. A demografia complicou ainda mais: há mais homens do que mulheres, resultado de décadas de preferência por filhos homens na política do filho único, mas essas mesmas mulheres, muitas vezes filhas únicas, receberam investimento pesado em educação e carreira — agora são elas que olham ao redor e concluem que “muitos não são bons o suficiente”.
Tem também quem tenha desistido do digital e foi parar no parque por conta própria. Mas a questão é que ninguém está saindo satisfeito. Aparentemente, as histórias de amor que realmente nascem ali são mínimas, mas o evento continua fervendo — talvez porque, no meio de tanta estatística preocupante e tanta expectativa depositada nos filhos, o mercado de casamentos seja também um pretexto para os aposentados saírem de casa, conversarem, tomarem um ar e, quem sabe, continuar acreditando que o amor, em alguma forma, ainda pode ser organizado num pedaço de papel.

COLA TUDO

A gente cresceu com cápsula, comprimido efervescente e aquele copo d’água meio sem graça do lado: esse era o kit vitamina que a gente tomava. De repente, entra em cena o adesivo de bem-estar, o tal do “wellness patch”, prometendo resolver tudo – ansiedade, foco, sono, libido, ômega-3 das crianças – como se fosse figurino: é só escolher o tema do dia e colar no corpo. As marcas vendem isso como a reinvenção da roda: nada de engolir pílulas gigantes, nem misturar pozinho em vitamina de manhã. A lógica é “sem pílulas, sem açúcar, sem besteira” – e, de preferência, com muito design. Dentro do adesivo, uma espécie de cocktail de ashwagandha (uma planta muito usada na medicina ayurvédica), GABA (ou ácido gama-aminobutírico, que é um neurotransmissor), magnésio e afins, com a promessa de liberação lenta, sem aquela pancada típica de gomas e comprimidos. E ainda tem a carta na manga: se você exagerar, é só arrancar – na teoria, né, porque às vezes ele decide cair sozinho antes da hora.
Só que, passada a empolgação do “uau, que conceito!”, vem a pergunta mais sem graça e mais necessária: será que funciona mesmo? Psicologicamente, a resposta é quase um sim automático – tem algo de muito sedutor em colar um cuidado na gente, literalmente –, mas cientificamente o cenário fica bem mais nebuloso. A pele existe justamente para impedir que a maioria das coisas entre no corpo, e, embora a gente tenha alguns sucessos conhecidos, tipo adesivo de nicotina, a verdade é que a permeabilidade de boa parte desses ingredientes de bem-estar ainda é uma grande interrogação. Para passar pela pele, a substância precisa ser bem pequena e solúvel em gordura, como cafeína e algumas vitaminas. Algumas empresas juram que resolvem isso com tecnologia, usando micronização para “quebrar” moléculas grandes, como B12 e zinco, e fazer tudo atravessar a barreira cutânea como se fosse simples assim. Toda essa narrativa de que o adesivo é mais eficaz, mais consistente e mais “inteligente” do que um suplemento tradicional não tem, por enquanto, um respaldo robusto de pesquisa independente. E aí entra outro detalhe importante: suplementos dietéticos, em geral, não precisam provar eficácia para serem vendidos, e o que não é ingerido nem sequer entra direito nesse guarda-chuva regulatório. Ou seja, estamos diante de um mercado ainda em formação, com muito mais marketing do que artigo científico para contar história.

Mas talvez a chave esteja justamente aí: no marketing. Esses adesivos não foram feitos para sumir discretamente sob a roupa – eles querem aparecer. Vêm em cores tipo fofas ou chamativas, formatos de raio para “energia”, tons azulados para “sono”, amarelo elétrico para “foco”. A ideia é ser alegre, intuitivo, quase pop, bem longe da cara de consultório. Quando você cola um desses no braço, não está só aderindo a um ritual de bem-estar: está vestindo um discurso. Vira uma espécie de outdoor ambulante, um embaixador da marca circulando pela academia, pelo home office ou pelo café. E isso conversa com um movimento maior: a saúde deixou de ser um esforço privado, silencioso, e virou performance socialmente aprovada, meio misturada com estética e beleza – não por acaso, há adesivos para pele mais firme, cabelo mais forte, unhas mais resistentes.
A busca pelo bem-estar virou literalmente um acessório – e acessório caro. Uma cartela de 36 adesivos pode custar 15 dólares ou bem mais, o que significa pagar, também, pelo estilo de quem se cuida. Talvez seja esse o ponto central da nossa era do autocuidado instagramável: estamos atrás de resultados concretos ou da sensação – e da estética – de estar fazendo tudo certo? A dúvida fica ali, grudada na pele junto com o adesivo.


EX-FUTUROS AMIGOS

Você já terminou uma amizade? Imagino que sim, certo? Tem uma expressão que vem ganhando espaço no vocabulário dos sentimentos nos últimos anos que é “friendship breakup”, o término de amizade. Tem tutorial no TikTok, thread no X, textão no Instagram explicando por que é saudável “cortar” aquele amigo que decepcionou. É quase um roteiro: percebe um deslize, confronta, bloqueia, segue a vida.

Mas aí vem uma provocação boa da jornalista Olga Khazan, em um texto para The Atlantic: e se a gente simplesmente parasse de “terminar” com os amigos? Não no sentido de aguentar tudo calado, mas de entender que talvez a expectativa esteja pesada demais para um vínculo que, por natureza, é meio nebuloso: não tem contrato, não tem DR obrigatória, não tem checklist de entregas emocionais. A gente vai deixando a pessoa entrar, se aproximar, ocupar espaço — e, sem perceber, espera dela mais do que o combinado.

Psicólogos lembram que uma saída não é fazer um corte limpo, e sim ampliar a rede. Em vez de apostar todas as fichas em uma única amiga “para tudo”, espalhar o peso entre diferentes pessoas: aquela que ouve nossos dramas amorosos, a que topa qualquer rolê, a que manda meme às 7h da manhã. É menos pilar único, e mais diversificação: você continua sustentado, mesmo que uma mão ou outra falhe.
Ao mesmo tempo, a vida adulta não facilita. Todo mundo repete que, quanto mais velhos ficamos, mais precisamos dos nossos amigos – e é verdade. Mas também é verdade que o tempo diminui, o cansaço aumenta e a paciência para lidar com falhas humanas vai ficando menor.
Conforme a idade avança, a ironia é cruel: precisamos ainda mais de amigos, mas ficamos com menos tempo, menos energia e, às vezes, menos paciência para cuidar dessas relações. A tentação é rotular qualquer deslize como “tóxico” e partir para o corte cirúrgico.
Talvez valha inverter a lógica: em vez de ultimato, um ajuste. Em vez de sentenciar que ninguém presta, reconhecer que aquela pessoa talvez não seja mais “amiga para tudo”, mas ainda possa ser ótima para algumas coisas. E, principalmente, abrir espaço para novas amizades, novos jeitos de ser amparado, novas combinações de afeto. No fim, quem sabe a pergunta não seja “quem eu vou demitir?”, e sim “com quem mais eu posso contar, ainda que de formas diferentes?”. Amizade é uma rede — e quanto mais pontos ela tiver, mais resistente fica.

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PADRÃO HARMONIZAÇÃO

Parece que a gente piscou e a beleza virou um projeto de tecnologia, né não? Já não basta o algoritmo decidir o que aparece nas nossas redes sociais, agora ele também anda dando uns palpites bem fortes sobre como a gente “deveria” parecer. E não é exagero: tem até estudo batizado de “The Great Beauty Blur” falando justamente desse grande borrão da beleza, em que todo mundo vai ficando meio parecido, meio filtrado, meio padrão.

Essa tal “homogeneização” não é só um jeito chique de dizer mesmice. Ela virou força motriz do mercado global de beleza, alimentada por um combo poderoso: algoritmos das redes sociais que premiam sempre os mesmos tipos de rosto, edições com inteligência artificial, avalanche de procedimentos estéticos e fórmulas de produtos que, no fundo, entregam resultados muito parecidos. O que era pra ser um universo de expressão individual está virando um catálogo de rostos suavizados, simétricos, familiares – aquele déjà-vu visual que a gente sente ao rolar o Instagram.

No meio desse movimento, até as fronteiras entre categorias tradicionais começaram a derreter. Skin care não é mais só cuidado com a pele, make-up não é apenas maquiagem, bem-estar já vem com promessa de glow. Tudo mistura, confunde, se sobrepõe. De repente, até o tal look “natural” virou um conceito meio suspeito: é natural mesmo ou é o “natural” com filtro, preenchimento e edição generosa de IA?

A pressão não é só estética, é emocional. Os dados mostram que se expor constantemente a esses padrões digitais aumenta de 33% a 57% a vontade de fazer algum procedimento cosmético. E o mercado responde animadíssimo: em 2024, o setor de estética global registrou 38 milhões de procedimentos, entre cirúrgicos e não cirúrgicos — um salto de 43% desde 2020. A cultura da “otimização” virou mainstream: otimizamos o rosto, o corpo, a pele, o humor, tudo em busca de uma versão supostamente melhorada de nós mesmos, ainda que isso nos empurre para o mesmo molde.

O que fica é uma pergunta incômoda rondando o espelho e a tela do celular: se o mercado oferece variações da mesma fórmula e os ideais digitais apontam todos para o mesmo rosto perfeito, onde é que entra a nossa individualidade nessa história? Como continuar sendo “a gente” num mundo que insiste em nos oferecer, o tempo todo, versões copiadas e coladas de beleza?


Desejos de consumo

O ano todo a gente sonha com viagens: para perto, para longe, para praias paradisíacas, para metrópoles, para lugares desconhecidos e para os eternos preferidos. Pensando nisso, escolhi esta semana, no Iguatemi, presentes para surpreender meus amigos globe trotters. Para tornar esses momentos mais especiais ainda!

1 - Quem não vai amar uma Rimowa nessa cor nova?

2 - Quer presente melhor do que esse? Um iPad de última geração da Apple, para manter a conexão com o mundo: queremos!
Da
A2YOU

3 - Para aquele friozinho que a gente sente no avião, uma pashmina sempre é útil: se for da Hermès, muito
melhor né?

4 - Sim, a pele sofre muito nas mudanças de clima, entre um vôo e outro: nada que o óleo facial hidratante da
La Mer não conserte…

5 - Onde guardar aquele monte de cremes, shampoo,
escova de dentes, perfume, nossos preferidos?
Numa nécésaire da
Prada, é claro!

Neste final de ano, fiquei pensando em maneiras um pouco diferenciadas, talvez mais ousadas, de como surpreender as pessoas que a gente ama com algumas experiências inusitadas. Aqui vão algumas das ideias que eu tive:


1. Pensei em um livro taylor made sobre a história da família, da empresa ou qualquer outro tema, já que a criatividade é um terreno ilimitado. Oca Books torna esse sonho realidade

2. ⁠ Este ano, descobri essa prática que me levou a outros lugares e outras sensações: sound healing é uma terapia de sons e a especialista Pat Diogo é fera nisso. Um presente e tanto. Eu costumo ir na Awake Health

3. ⁠ Que tal um curso de italiano? Para dizer sem sotaque “Io ti amo”? No Instituto Italiano de Cultura de São Paulo, tem.

4. ⁠Ah, que sonho de surpresa: uma viagem de aventura para Lençóis Maranhenses — para se hospedar, reserve na OIÁ

5. ⁠ Ler é sempre o melhor remédio e uma assinatura num bom clube de livros é um presente que faz toda diferença: meu amigo Pedro Pacífico, mais conhecido como Bookster, tem O "Bookster pelo mundo" com a TAG Livros, que eu recomendo

6. Olha que ideia mais maravilhosa: uma assinatura de chás, da Talchá! Amo demais e que amigo não vai se surpreender?

7. Que tal dar de presente uma assinatura dos Concertos Internacionais da TUCCA? Toda a arrecadação vai para crianças e adolescentes carentes, com câncer, assistidos pela instituição. No próximo ano, a programação, sempre estrelada, vai incluir uma apresentação de John Malkovich. Presentão!

8. Eu amo uma folia desgarrada e, com certeza, muita gente também gosta: que tal surpreender com aulas de batuque, instrumentos e percussão? A Bangalafumenga tem


9. Quem canta, os males espanta: dar de presente aulas de canto, por que não? Com Malu Magri


10. Ai, um pet para chamar de seu? Os mais charmosos são do Club Salatino — pode falar com o Rochester (os meus salsichas são dele)

Conversei com a Mônica Martelli sobre trabalho, escolhas, humor e tudo aquilo que a gente aprende vivendo, especialmente quando para de fingir que está tudo sob controle.

Assista no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=z8_9jT3V7-w


3 perguntas para

Marcus Preto gosta de dizer que vive de ser “fã profissional”. Não é força de expressão: foi ouvindo discos — mapeando a lógica escondida nos grandes álbuns e até nos ruins — que ele saiu da posição de garçom no Spot, um dos restaurantes mais fervidos de São Paulo, para a redação, da Revista MTV à Folha de S. Paulo, e, dali, para a direção artística e a curadoria. O método nasceu da escuta: um raciocínio treinado em vinil, que ele transforma em diagnósticos amorosos, sinceridade sem rodeios e escolhas que fazem sentido no palco e no estúdio. No Coala, festival do qual é curador desde 2017, essa linha de raciocínio virou assinatura: cruzar gerações não como “revival” nem “resgate”, mas como conversa viva entre quem abriu caminhos e quem os percorre agora.

1. Você diz que “vive de ser fã profissional”. Quando percebeu que a escuta obsessiva podia virar método de curadoria e direção artística?

Foi a música que me levou por esses caminhos todos. Aprendi tudo o que eu sei ouvindo discos de música popular brasileira. Existe uma lógica neles, nos grandes álbuns e até nos ruins, que acabou formando meus caminhos de raciocínio, tanto no sentido prático quanto no artístico. E eu não exagero quando digo isso. Na prática, foi a música que me levou ao jornalismo. Eu conhecia os discos, sabia a história dos artistas envolvidos e gostava de escrever. Eram essas as armas que eu tinha. E com elas eu fui abrindo meu caminho. Mas, antes mesmo de conseguir meu primeiro emprego como jornalista, a música já tinha me conseguido um emprego como garçom no Spot, em meados dos anos 1990. Afinal, fui levado ao restaurante por amigos que conheci nos tempos de Universidade Livre de Música, estudantes que se viravam financeiramente atendendo mesas. Saí dali direto para a revista “MTV”, sem faculdade, depois de enviar um e-mail (bêbado, de madrugada) para a Mônica Figueiredo, diretora de redação. Ela gostou do que eu escrevi e me contratou. No jornalismo, tive chance de organizar melhor todas essas informações que tinham me levado até ali. Olhando a música de perto, entrevistando quem vivia dela, quem produzia, entendendo as dinâmicas todas. Meu último trabalho fixo como jornalista foi na Folha de S.Paulo, de onde saí em setembro de 2012, demitido porque “era bonzinho demais” com os discos e os artistas. Engraçado. Depois, só escrevi coisas esporádicas.

O acaso é sempre o momento-chave na minha vida, isso é muito louco. Quando saí da Folha, fui atrás de empregos mais ou menos ligados ao jornalismo. Um deles, no qual eu já estava envolvido havia uns dois ou três anos, era uma biografia do Tom Zé, que ainda estava na etapa de pesquisa. Outro, foi a ideia de fazer um documentário sobre a fase “Fa-Tal” da Gal Costa, na virada dos anos 1960 para os 1970. Nenhum desses dois projetos se concretizou: nem livro, nem filme. Mas saí de ambos com convites para produzir discos. Isso se deve, creio, à minha personalidade palpiteira. Eu tento evitar, mas sempre dou uma opinião sobre alguma coisa que a pessoa deve ou não deve fazer, o que eu acho que seria bom e o que considero uma péssima ideia para a carreira dela. Seguindo justamente aquele pensamento lógico que assimilei ouvindo música. Às vezes, sou “sincericida”, até. Mas, como tenho amor real pelo trabalho de muitas dessas pessoas (o “fã profissional” que você citou), consigo dizer as coisas que outras pessoas não conseguem, fazer um diagnóstico amoroso da situação e propor soluções a ele. Acho que é por aí.


2. O que, para você, define um “novo clássico”? Qual disco brasileiro recente que você chamaria de “novo clássico”?

Ah, isso só o tempo vai poder cravar. Mas, olhando em retrospectiva, eu diria que se tornam clássicos aqueles álbuns que: 1) fazem absoluto sucesso e marcam uma geração ou um tempo; ou 2) têm conteúdo artístico tão poderoso que vão fazer diferença lá na frente, em futuras leituras. Alguns discos são tão incríveis que reúnem as duas coisas. Exemplos recentes? “Nó na Orelha” e “AmarElo”, só pra ficar nos cruzamentos entre rap e MPB propostos por Criolo e Emicida. A música brasileira segue fervilhante. Entre os álbuns que eu fiz mais recentemente, colocaria o “Nordeste Ficção”, da Juliana Linhares, e o “Se Meu Peito Fosse o Mundo”, do Jota.pê, numa provável lista de futuros clássicos. Também incluiria aqui “O que Meus Calos Dizem Sobre Mim”, da Alaíde Costa.

3. O “mix novatos + lendas” virou uma assinatura do festival Coala. Qual critério separa revival de resgate necessário?

Interessante, essa pergunta. Eu não chego a chamar de “resgate” o que a gente faz no Coala. Também não vejo como “revival”. Acho que todos os artistas que a gente chamou para o lineup do festival até aqui estão em atividade, seguem no radar de muita gente, mesmo que seja muita gente da nossa bolha. É curioso como a música tem sua força independente e segue acontecendo mesmo fora dos holofotes do mainstream. Cruzar gerações é fundamental para todos os lados. Um potencializa alguma coisa do outro, sempre. Na superficialidade das redes e da internet, existe sempre um novato que acredita estar inventando a roda, criando um negócio nunca antes visto a partir do nada. Bobagem. Os artistas jovens em quem eu mais aposto sabem perfeitamente de onde vieram, conhecem o passado da música e entendem quem abriu os caminhos até aqui. Quem não sabe da própria história certamente vai morrer logo ali, bem antes da praia.

Direto do meu Instagram

Essa Semana Eu…

Senti demais a partida de uma estrela da fotografia mundial: Martin Parr, esse gênio


Comemorei, junto com Rayssa Leal, que, aos 17 anos, venceu o tetracampeonato mundial de skate street


Vi que na programação do ano que vem do Teatro Cultura Artística vai ter uma apresentação das irmãs Labèque, Katia e Mireille, que eu amo tanto — não perco por nada


Desembarquei na charmosa loja da Pége, na Barra Funda, para ver a coleção de verão: sou mega fã da marca e comprei algumas peças, inclusive uma saia completamente transparente…


Ainda não consegui desfilar com minha nova sandália, da collab de Bruna Botti e Helena Sicupira — um cruzamento de Nordeste brasileiro com sofisticação pura


Fui, finalmente, visitar a exposição sobre Lasar Segall, no Museu Judaico de São Paulo — recomendo muito


Li, de uma sentada só, o livro de poemas “A velha e o mar”, de Lucia Cortez Mendonça: um bálsamo para a alma


Vi, pela primeira vez, uma foto de Sofia Coppola com a filha Romy Mars — charme em dose dupla


Perdi o jantar temático montado por Zeila Ferro, em sua casa, para a nossa turma que viajou junto para a Bienal de Veneza, no ano passado — pude acompanhar tudo pelas fotos, em nosso grupo de WhatsApp


Não pude participar de um encontro superespecial, promovido para poucos convidados, do Nubank, com performance gastronômica de Simone Mattar e outras surpresas mais: uma crise de dor com uma pedra no rim me acompanhou a semana inteira e me derrubou…


Achei a maior fofura a foto de Fernanda Montenegro e Tânia Maria, a atriz — estreante — que faz dona Sebastiana, magistralmente, no filme “O Agente Secreto”: o encontro aconteceu aqui em São Paulo, na CCXP


Fui conferir a Feira na Rosenbaum, comandada, maravilhosamente, por Cris Rosenbaum, no Conjunto Nacional: comprei muitas coisas interessantes e sugiro que ninguém perca! Termina neste domingo


Fiquei emocionada com a nova coleção de joias Miriam Mamber: criações sensíveis e únicas


Comprei vários presentes de Natal na Branco.Casa do Iguatemi — foi uma delícia escolher cada peça


Tive que acompanhar, apenas de longe, a apresentação de Alaíde Costa e Gilson Peranzzetta, no Teatro Rival Petrobras, no Rio, e no Bona, no dia seguinte, em São Paulo — espetáculos que celebraram os 90 anos da maravilhosa Alaíde


Em meio a dias difíceis para mim, consegui gravar com Fernanda Feitosa o último episódio deste ano de “Somos conversa”, que faço para o canal do Iguatemi: foi na Casa Jereissati — um sonho de cenário


Achei uma graça a bolsa Dior criada por Jonathan Anderson, em homenagem aos livros e à leitura — incrível como esse tema me toca…

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O final do ano está chegando e bate aquela melancolia, tão comum nessa época, quando o barulho e as luzes do lado de fora se encontram com aquele sentimento que, às vezes, a gente nem consegue nominar. Por isso, escolhi essa canção tão sensível e profunda, principalmente quando cantada por Milton Nascimento: Beatriz.

CLIMA FIESTEIRO

No Brasil, o Natal é sinônimo de gente reunida, música, conversa boa e muita comida na mesa. É exatamente esse clima “fiesteiro” que a Seara colocou no centro da nova campanha de Fiesta. O Fiesta Seara é a ave natalina da marca: já vem temperada, suculenta, prática de preparar e feita para ser o grande protagonista da ceia, daquele tipo que chega à mesa rodeado de acompanhamentos e rende elogios a noite toda.


Criada pela GALERIA.ag, a campanha apresenta o universo dos “Fiesteiros”, aquelas pessoas que vivem a ceia como ela realmente é por aqui: calorosa, animada, barulhenta na medida certa e com a mesa sempre farta. O Fiesta Seara aparece como o ponto de partida dessa festa toda, a escolha de quem quer praticidade sem abrir mão do sabor, perfeita para receber família, amigos e até os amigos dos amigos.


No vídeo, quem encarna esses “Fiesteiros” são Fátima Bernardes, Sabrina Sato, Humberto Carrão e Thiago Oliveira, representando aquelas figuras clássicas que todo mundo reconhece na própria família: o que puxa assunto, o que registra tudo no celular, o que repete o prato sem culpa. A mensagem da marca é clara: quando tem Fiesta Seara na mesa, o encontro ganha outra energia, o Natal fica mais leve, mais gostoso e com aquele astral que é a cara do Brasil. A campanha já está no ar com veiculação em TV aberta e fechada, estratégia digital e conteúdos especiais nas redes da Seara, além da presença em painéis, relógios de rua e outros formatos espalhados pela cidade, espalhando o espírito “fiesteiro” pelas ceias de fim de ano.

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